Reprise de ‘Viver a Vida’ no VIVA inocenta Taís Araújo de toda a culpa que carregou pelo fracasso da novela
- Geovanne Solamini
- 17 de mar.
- 4 min de leitura
Em exibição no Canal VIVA, a novela chama atenção de quem acompanha e mostra uma nova percepção do público sobre a primeira Helena negra de Manoel Carlos

Há poucos dias do fim da exibição de ‘Viver a Vida’ no Canal VIVA, é preciso reconhecer uma coisa: Taís Araújo pode se considerar inocentada de toda e qualquer culpa que carregou pelo fracasso da novela nesses 16 anos que passaram. E que bom que isso aconteceu!
Interpretar uma Helena de Manoel Carlos é uma grande honra e uma tremenda responsabilidade para qualquer atriz, assim como foi para todas as sete atrizes que as interpretaram, porém, infelizmente, o fardo sempre pesou para Taís Araújo e nós, como público e sociedade, sabemos bem o porquê.
Hoje, através desta reprise, é possível perceber que realmente o Brasil ainda não estava preparado para assistir e aceitar uma Helena negra, ainda mais quando ela já era jovem, bem-sucedida e independente. Tais características que, dentro de uma novela, não era comum ver e, principalmente, em uma personagem clássica que sempre foi tida como uma mulher madura e branca.
Desde os primeiros capítulos, Taís Araújo sempre esteve radiante como Helena. Não era aquela Helena clássica como sempre estávamos acostumados a ver e, talvez por isso, não foi comprada facilmente pelo público. Algo que, desta vez, aconteceu de maneira diferente. Ela foi abraçada cada vez mais conforme o roteiro a colocava mais coadjuvante na história que, em tese, deveria ser sua.
Mesmo que Maneco pensasse em uma certa revolução na sociedade, infelizmente sua proposta não foi bem desenvolvida. Embora sejamos todos fãs do autor, é preciso reconhecer isso. Não deu certo e o resultado foi uma personagem que começou a história em seu auge e decaiu e muito no protagonismo, sofrendo diversos acontecimentos: o racismo de Teresa (Lília Cabral), a culpa pelo acidente de Luciana (Alinne Moraes), o casamento com Marcos (José Mayer) e um aborto, dentre outras coisas que só foram diminuindo a protagonista a uma mera sofredora.
É como se a personagem fosse contra tudo aquilo que o público esperava de uma protagonista: uma mulher negra, jovem, que já realizou um aborto e criada e construída fora daquele arquétipo de uma mulher envolta ao machismo e ao patriarcado sempre presentes nas novelas do autor. Isso, mesmo Taís sendo uma atriz já conhecida e prestigiada…
Logo, perdeu seu espaço e acabou ofuscada mesmo com as tentativas do roteiro de inseri-la neste contextos, ainda que de maneira sutil, como foi no casamento com Marcos. Como isso poderia dar certo com duas pessoas completamente distintas? Helena foi contra tudo que sempre prezou, deixou de trabalhar e passou apenas a ser uma esposa troféu de um marido machista que exigia ter apenas uma esposa dedicada a ele e ao lar. Obviamente um casamento desses não daria certo e os conflitos uma hora apareceriam – sendo o seu maior livramento o divórcio.
Chega até mesmo ser irônico pensar que Taís Araújo sofresse ao mesmo tempo que sua Helena, devido às críticas impiedosas por parte da rejeição da audiência. Mesmo assim, diante todas as situações sofríveis que ela já declarou publicamente, foi possível prestigiar uma atuação bastante competente e segura, o que fez com que o público de hoje torcesse por ela.
O brilho de Helena só voltou da metade pro final de ‘Viver a Vida’ e, consequentemente, a sua trama – que deveria ser a principal da novela – voltou a ganhar destaques e conflitos interessantes. O perdão, um novo amor, a retomada da carreira como modelo… Justo! A sensação é de que Helena foi a protagonista apenas dos dois primeiros e dos dois últimos meses da novela, infelizmente.
Desde que a novela estreou, o público sempre reverenciou o trabalho de Taís Araújo. Por isso, em setembro de 2024, a atriz usou as redes sociais para fazer as pazes com a personagem que a tanto impactou negativamente na sua carreira através de um vídeo que repercutiu bastante. Foi um momento maduro e, sem dúvidas, bonito para ela e sua carreira, onde ela ressignificou a importância deste trabalho tão marcante.
A primeira Helena negra de Manoel Carlos carregou também o título de ser a primeira protagonista negra no horário nobre da TV Globo – uma responsabilidade e um orgulho imenso que Taís Araújo deve sentir mesmo diante de tudo o que foi exposta. Embora tardio, foi, sem dúvida, um marco na teledramaturgia brasileira que nós como sociedade não sabíamos enxergar a importância daquela representatividade na televisão.
Assim, 16 anos depois, Taís Araújo pode se considerar inocentada da culpa que sempre carregou pelo mal desempenho, críticas e a reputação negativa de ‘Viver a Vida’. Obviamente não é uma das melhores novelas do autor (até mesmo dos anos 2000), mas ela possui suas qualidades que, sem dúvida alguma, é a protagonista e a atriz que deu vida. Antes tarde do que nunca, não é mesmo?
Agora é torcer para que Taís Araújo brilhe como Raquel Accioli no remake de ‘Vale Tudo’ que estreia no próximo dia 31. A sua nova protagonista é um prato cheio para que seja reafirmado que esse é o seu merecido lugar!