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Foto do escritorGeovanne Solamini

Há 15 anos, “Belíssima” exibia seu último capítulo

No dia 7 de julho de 2006, nos despedíamos de uma viagem à Grécia pelas telinhas.


Imagem: Reprodução/Globo

“Belíssima”, penúltima novela de Silvio de Abreu no horário nobre, exibia seu último capítulo – talvez um dos melhores últimos capítulos exibidos pela TV Globo. Ao site Memória Globo e no livro “Crimes no Horário Nobre: um Passeio pela Obra de Sílvio de Abreu”, o autor revela muitas curiosidades sobre a produção da novela.


Na companhia de sua diretora de núcleo, Denise Saraceni, Sílvio viajou à Grécia em busca de referências. A novela discutia a obsessão pelo poder e pela imagem em uma sociedade regida por aparências, tornando o país europeu o lugar ideal para ambientar seu começo e seu final, uma vez que a Grécia é o berço da civilização ocidental, e de onde surgiram os mitos da beleza.


Sílvio desenvolveu a sinopse à base de inteligência e muito planejamento, amarrando os segredos da novela de forma muito artística, diferente da maneira industrial de se fazer novelas hoje em dia. “Belíssima” não foi uma novela simples, que entrega todas as informações de primeira. Foi uma obra que necessitava de atenção, onde em vários momentos, tínhamos que ligar os pontos para tentar desvendar todos os grandes mistérios que surgiam ao longo dos 209 capítulos. Apesar de ter sido longa, foi ágil e contava com vários desdobramentos para confundir a cabeça do público, coisa pouco frequente nas novelas atuais.


Além da Grécia, a maior parte da ação era ambientada em São Paulo, marca registrada do autor, assim como os elementos policiais já explorados por ele em “A Próxima Vítima” (1995) e “Torre de Babel” (1998). Em “Belíssima”, a trama policial era considerada arrastada ou fraca por muitos, mas tem o seu potencial de qualidade. A novela usou e abusou dos conceitos, começando pela abertura, que foi inspirada em um ensaio fotográfico, onde uma modelo, numa vitrine, era observada por todos ao som de “Linda”, de Caetano Veloso, reafirmando o tema da novela.

Bia Falcão (Fernanda Montenegro) e Júlia Assumpção (Gloria Pires) em “Belíssima” (2005). | Imagem: Divulgação/ TV Globo

Na trama central, tínhamos uma avó (Bia Falcão, um dos papéis mais memoráveis de Fernanda Montenegro na TV) que rejeitava sua neta (Júlia, vivida por Glória Pires) por ela não ser o símbolo de perfeição absoluta que sua mãe, Stella, representou enquanto viva.


Bia passou a novela arquitetando um plano para roubar a fortuna da família que à pertence, manipulando a neta para que se casasse com André (Marcello Antony), seu aliado, e forjando a própria morte num acidente, uma das cenas mais memoráveis da novela.


Glória Pires, em seu primeiro trabalho com o autor, viveu uma personagem pouco lembrada pelo público, justamente por ser uma mulher discreta, apagada, oprimida pela avó. Ao longo da novela, Júlia cresce, deixa de ser manipulável e toma as rédeas da sua vida.


O último capítulo começa com um dos melhores ganchos já exibidos, quando o público finalmente descobre quem foi acertado pelo tiro que Bia Falcão disparou no capítulo anterior: André ou Vitória (Cláudia Abreu).

Imagem: Reprodução/Globoplay

Logo em seguida, o capítulo já começa bem ágil com a fuga da grande vilã e seus desdobramentos, núcleos encerrando seus dilemas e até surpresas. Destaque para a cena de embate entre Vitória e Bia, onde a mesma descobre que é filha da megera (através de uma participação luxuosa de Laura Cardoso) e rende uma boa troca entre Cacau e Fernandona, assim como a cena em que Bia surge plena em Paris após fugir do Brasil, ao lado do garoto de programa Mateus (Cauã Reymond), destoando do clássico final do vilão sendo punido. O capítulo termina com Júlia e o grego Nikos (Tony Ramos) no topo de uma montanha na Grécia, após se casarem, observando o mar.

Cauã Reymond e Fernanda Montenegro no surpreendente final da vilã Bia Falcão | Imagem: Reprodução/ Globo

Em resumo, é ótimo último capítulo, de tirar o fôlego, mexendo com nossas emoções e nosso humor – o capítulo teve até espaço para uma homenagem à diversas vedetes do teatro rebolado, lideradas pelas fictícias Mary Montilla (Carmem Verônica) e Guida Guevara (Íris Bruzzi). Encerrou com chave de ouro uma novela inteligente, onde os mistérios não são revelados gratuitamente, e isso deve ser reconhecido até por quem não gosta da novela. Sua qualidade, em todos os aspectos, é inquestionável.

Guida Guevara (Íris Bruzzi), Gigi (Pedro Paulo Rangel) e Mary Montilla (Carmen Verônica) | Imagem: Memória Globo

Por que “Belíssima” não deu certo no “Vale a Pena Ver de Novo”?


Apesar de ter sido a 3º maior audiência do horário das 20h na década de 2000, “Belíssima” não obteve o sucesso esperado pela TV Globo em sua passagem pela sessão de reprises, entre 2018 e 2019. Como já discutimos aqui, “Belíssima” demorou 13 anos para ser reprisada, devido ao seu perfil “pesado” e sua trama séria, cheia de crimes e traições, pouco indicada para ser exibida à tarde. Em junho de 2009, a trama foi cotada para substituir a reprise de “Senhora do Destino” (2004), mas foi barrada, numa época em que a classificação indicativa ainda estava de pé e impedia diversas reprises de novelas de sucesso, consideradas impróprias para o horário.


A demora para ser reprisada pode ser apontada como um dos motivos da baixa audiência, já que após 10 anos sem nenhuma reprise na TV aberta, uma novela corre o risco de ficar “velha”, sendo esquecida pelo público. Um grande exemplo disso foi a sua antecessora na faixa de reprises, “Celebridade” (2003), novela ainda mais “barra pesada” que também surpreendeu negativamente no Ibope, sofrendo vários cortes que desfiguraram a novela, mostrando um certo descaso da emissora com a obra e com o público. “Belíssima” ganhou uma forte – e até forçada – divulgação, e talvez só tenha sido reprisada como um último desejo de Silvio de Abreu, que preparava sua despedida do cargo de diretor de dramaturgia da TV Globo, aproveitando a queda da classificação indicativa.


Na internet, a novela sofreu o clássico boicote causado, principalmente, pelos fãs de “Celebridade”, que não perdoaram o tratamento privilegiado que “Belíssima” teve ao ser exibida quase que na íntegra, mesmo não atingindo sua meta de audiência. Por fim, fica o nosso questionamento à emissora, que deveria tomar mais cuidado para que situações como essa não voltem a acontecer, uma vez que não somente desagradam o público como também prejudicam a imagem e a memória da novela. Ficamos na torcida para que “Belíssima” seja resgatada pelo Canal VIVA nos próximos anos, dando-a a chance de ser reapresentada em toda sua glória, como ela merece.


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